top of page

O homem moderno e os riscos jurídicos nas relações interpessoais


O homem moderno e os riscos jurídicos nas relações interpessoais


1. Introdução


A sociedade contemporânea vivencia uma transformação nas dinâmicas de convivência interpessoal, especialmente no que se refere às relações entre homens e mulheres. Esse cenário foi impulsionado pelas mudanças culturais, pela valorização da autonomia feminina e pela criação de novos tipos penais para proteger a dignidade e a integridade das mulheres. Nesse contexto, o homem moderno enfrenta riscos jurídicos crescentes ao interagir socialmente, seja em paqueras, relações afetivas ou mesmo em situações rotineiras no ambiente de trabalho.


Com a criminalização de condutas como a importunação sexual, o assédio sexual, o stalking e a aplicação da Lei Maria da Penha, muitos homens se vêem em situações que, embora antes fossem tidas como socialmente aceitas (ou, no mínimo, toleradas), passaram a configurar crimes, muitas vezes punidos com severidade. Este artigo analisa essas figuras penais e discute o impacto nas relações amorosas e sociais, destacando os riscos que o homem moderno enfrenta.


2. As Transformações Sociais e o Aumento dos Tipos Penais


A inserção de novos tipos penais no ordenamento jurídico brasileiro visou proteger a mulher contra comportamentos invasivos e abusivos que, por muito tempo, foram relativizados. Condutas que anteriormente eram consideradas "brincadeiras" ou "avanços amorosos" passaram a ser tipificadas como crimes de natureza sexual ou de perseguição.


As principais leis que moldaram essa nova realidade foram:


  • Lei 13.718/2018: Criou o crime de importunação sexual.

  • Lei 14.132/2021: Criminalizou o stalking (perseguição).

  • Lei 11.340/2006 (Lei Maria da Penha): Ampliou a proteção das mulheres contra a violência doméstica e familiar.


O objetivo dessas leis é legítimo e visa proteger a dignidade, a liberdade sexual e a integridade das mulheres. No entanto, o homem contemporâneo se vê diante de uma nova realidade: atos de paquera e relações interpessoais que antes eram considerados normais agora podem resultar em ação penal pública incondicionada, ou seja, o Ministério Público pode processar o acusado sem a necessidade de autorização da vítima.


3. O Risco de Falsas Acusações de Crimes Sexuais Envolvendo Crianças


Entre todos os riscos que o homem moderno enfrenta, as falsas acusações de crimes sexuais contra crianças se destacam como um dos mais perigosos e danosos. Isso ocorre porque, em muitos casos, a simples denúncia de abuso sexual de crianças ou adolescentes provoca uma reação automática do sistema de justiça, resultando na prisão preventiva do acusado, afastamento imediato do lar e medidas protetivas extremas.


Como isso pode ocorrer?


  • Acusações durante disputas conjugais: Nas separações litigiosas, especialmente quando há disputa pela guarda de filhos, a alegação de abuso sexual pode ser usada como instrumento de vingança ou manipulação.

  • Influência psicológica sobre crianças: Crianças podem ser induzidas por adultos a relatar fatos inexistentes, especialmente se forem convencidas de que algo ocorreu.

  • Provas subjetivas e ausência de contraditório: Nos crimes sexuais contra crianças, a palavra da vítima tem grande peso, o que pode resultar na prisão preventiva do acusado sem provas objetivas.


Exemplo prático: O Caso da Escola Base


Um dos casos mais emblemáticos de falsa acusação de abuso sexual contra crianças no Brasil foi o

Caso da Escola Base, ocorrido em 1994, em São Paulo. O episódio ilustra de forma clara o potencial destrutivo de uma acusação infundada.


O que aconteceu no Caso Escola Base?


  • Os proprietários de uma escola infantil (Ibrahim Abdala Nájera e Maria Aparecida) e dois professores foram acusados de abusar sexualmente de crianças.

  • A acusação teve origem em uma suspeita infundada dos pais de algumas crianças, que interpretaram comportamentos infantis como indícios de abuso.

  • Sem investigação adequada, a denúncia foi levada à imprensa, que expôs os nomes e rostos dos acusados em rede nacional.

  • A mídia sensacionalista condenou os acusados antes de qualquer julgamento, e a sociedade "executou" a pena publicamente.

  • A polícia chegou a invadir e fechar a escola, destruindo sua reputação e a vida pessoal e financeira dos proprietários.

  • Após a investigação, ficou comprovado que não havia qualquer indício de abuso sexual. No entanto, a imagem dos acusados já estava arruinada.


Lições do Caso Escola Base


O Caso Escola Base é um exemplo trágico de como uma acusação de abuso sexual infantil, mesmo sem provas, pode destruir a vida de homens inocentes. O impacto na sociedade foi tão grande que, atualmente, juízes e promotores têm maior cautela na exposição pública de suspeitos de crimes sexuais contra crianças. No entanto, em muitos casos, o simples indício ou denúncia pode resultar em prisão preventiva, já que o Judiciário age preventivamente para proteger os menores.


4. A Pensão Socioafetiva e o Risco de Paternidade Afetiva


Outro risco relevante que o homem moderno enfrenta ao se relacionar com mulheres que possuem filhos é a obrigação de pagar pensão alimentícia para filhos que não são biologicamente seus, com base na chamada paternidade socioafetiva.


Como isso pode acontecer?


  • O homem mantém uma relação de convivência estável com a mulher e, ao longo do tempo, constrói um vínculo de pai e filho com a criança.

  • Caso ocorra o término da relação, a mãe pode alegar que a criança vê o ex-companheiro como "pai afetivo" e solicitar na Justiça o reconhecimento de paternidade socioafetiva.

  • O Poder Judiciário pode reconhecer a paternidade socioafetiva e, por consequência, obrigar o homem a pagar pensão alimentícia para o filho, mesmo que ele não tenha vínculo biológico.


Risco para o homem moderno


O risco de pagar pensão para filhos que não são seus é real e vem sendo consolidado na jurisprudência brasileira. Tribunais estaduais têm reconhecido que, em relações familiares contemporâneas, o "afeto" se sobrepõe ao DNA. Portanto, homens que se relacionam com mulheres que já têm filhos e se aproximam afetivamente dessas crianças correm o risco de, após o fim do relacionamento, serem obrigados judicialmente a prestar assistência financeira a esses menores.


5. Vale a Pena Manter Relacionamentos Amorosos?


A análise dos riscos apresentados revela que manter relacionamentos amorosos no mundo contemporâneo se tornou uma verdadeira "loteria jurídica" para o homem moderno. Além do risco de acusações de importunação, assédio e stalking, a convivência com mulheres que possuem filhos de outros relacionamentos potencializa ainda mais as possibilidades de prejuízo jurídico e financeiro.


Principais riscos:


  • Falsas acusações de abuso sexual contra crianças (exemplo: Caso Escola Base).

  • Obrigação de pagar pensão alimentícia para filhos de ex-companheira (paternidade socioafetiva).

  • Afastamento do lar por medidas protetivas sem contraditório.


6. Conclusão


O homem moderno está cercado por uma densa teia de normas jurídicas que regulam suas relações interpessoais. Condutas que, no passado, eram vistas como "normais" hoje configuram crimes que podem implicar reclusão, afastamento do lar e proibição de contato.


Além disso, o homem que se envolve com mulheres que possuem filhos enfrenta o risco de ser acusado injustamente de crimes sexuais contra crianças, como no Caso Escola Base, ou ainda de ser forçado a pagar pensão alimentícia por paternidade socioafetiva.


O efeito prático dessas regras é o aumento da cautela masculina em se relacionar. Muitos homens optam pela solteirice permanente, reconhecendo que os riscos superam os benefícios. Da mesma forma, mulheres relatam que "não encontram pretendentes dispostos a um compromisso sério", sem perceber que a causa está nas próprias leis que as protegem.


Rogerio Zarattini Chebabi

Advogado


Comments


Posts Em Destaque
Posts Recentes
bottom of page